quarta-feira, 6 de novembro de 2013

DIA Z PARTE 3


Ao abrir os olhos, uma forte luz penetrou sua íris, fazendo sua pupila se contrair. Jéssica imediatamente tornou a fecha-los, colocando a mão a frente do rosto. Sua mente estava confusa e seus olhos doíam com aquela claridade toda. Tornou a abri-los, desta vez devagar, tentando filtrar a luz por entre os dedos da mão. Onde eu estou? Ela sentia-se enjoada e sua visão estava turva; o mundo parecia girar e dançar a sua volta. Apoiando-se na parede, ela primeiramente ficou de joelhos, então foi levantando aos poucos, a medida que as coisas ao redor começavam a ficar paradas e nítidas. Assim que conseguiu observar com clareza o lugar, Jéssica foi tomada por pavor e desespero. Sua respiração acelerou e ela cambaleou para trás até esbarrar em uma cadeira. Haviam três corpos a sua frente, sendo um deles o de William; seus óculos estavam quebrados e embaçados e sangue escorria de sua boca, juntando-se a poça vermelha formada abaixo de sua cabeça. Meu Deus, Lucas! - pensou ela, e começou a procura-lo, mas ele não estava ali em lugar algum. Jéssica olhou para todos os lados e então deu-se conta de que seus dedos estavam fechados sobre alguma coisa. Assustou-se ao ver que segurava uma pistola, deixando-a cair no chão; então se abaixou e a pegou novamente. Lucas! - chamou, mas sua voz apenas ecoou pela fria sala, sem receber uma resposta. Ela virou-se para o local onde estava deitada. Havia uma folha no chão que parecia um bilhete. Ela esticou-se para pega-lo.



Quando terminou de ler aquelas palavras, tudo que conseguia fazer era chorar. Sentia tristeza e raiva, medo e ansiedade, tudo ao mesmo tempo. Logo ao lado ela viu uma seringa vazia. Jéssica levantou-se e foi lentamente caminhando até a porta de saída; ao abri-la, se deparou com aquele enorme corredor metálico novamente, e logo adiante estava Lucas, sentado de costas contra a parede. Ela gritou e colocou a mão sobre a boca quando o viu. Havia sangue e pedaços - sobre os quais ela não quis pensar - espirrados na parede atrás dele. Sua cabeça estava caída com a face voltada para o chão; os negros cabelos caindo-lhe sobre o rosto. Seus braços pendiam abertamente, e em sua mão esquerda repousava o revolver usado. Jéssica não conseguiu olhar por mais que alguns segundos, entrou na sala de novo e começou a chorar. Meu Deus, Lucas... - disse ela, encostada contra a porta. Aquilo não podia estar acontecendo. Ao seu lado, mais ao fundo, havia uma espécie de cortina branca, ela caminhou até lá e a puxou. Antes de sair, ainda vasculhou todos os freezers em busca de outra daquelas malditas seringas, mas realmente não haviam mais. Lucas sacrificou-se por ela; ele estava sempre a protegendo; ele estava sempre com ela; ele a amava. Novamente no corredor, ela se aproximou do amigo, deitou-o, e o cobriu com aquela cortina branca. A pele de seu rosto estava extremamente pálida, indicando que ele já se encontrava morto a horas. Jéssica segurou a mão de Lucas e acariciou seus cabelos, ajeitando-os para trás. Seus olhos encheram-se de lágrimas novamente e, após um suspiro ela disse: Eu queria que você pudesse ouvir isto... eu também o amo, muito mais do que jamais consegui admitir, e... sinto tanto que isto tenha acontecido. - balbuciou estas palavras, a medida que aproximava seus lábios dos lábios dele, e então beijou-o suavemente, deixando algumas lágrimas pingarem sobre sua face. Olhou-o uma ultima vez e em seguida cobriu-lhe o rosto.



Aquele lugar já começava a cheirar muito mal. Somente agora ela sentiu o cheiro putrefato de morte que vinha daqueles cadáveres caídos ao longo do corredor. Jéssica retirou o pente da arma para checar as balas e a engatilhou novamente. Pegou o revolver 38 de Lucas e guardou dentro da bolsa que havia encontrado perto do corpo de William. Já era hora de sair daquele lugar. Entrou no elevador e apertou o botão que levava ao térreo. Enquanto a porta fechava, não tirou os olhos um segundo sequer do corpo do amigo. Era a ultima vez que ela o veria.

Enquanto o elevador ia subindo, Jéssica sentiu-se tonta novamente e com náuseas; sua visão voltou a ficar turva e ela vomitou um líquido amarelo e sangrento. A porta do elevador abriu e ela saiu cambaleando para dentro da farmácia, até encontrar algo em que pudesse se apoiar. Lá fora a noite já dava seus últimos suspiros e um céu negro azulado começava a formar-se entre nuvens. Ela parou um instante e respirou fundo, não podia desistir, precisava continuar viva, por Lucas. Sentiu-se capaz de prosseguir, então saiu.

As ruas estavam vazias, com fatalidades e carros acidentados em toda parte, e havia algo mais além do vento zunindo; gemidos distantes pareciam emergir de dentro de prédios, e também por entre os mesmos. A mais ou menos três quadras de distância, um pequeno grupo de quatro zumbis apareceu caminhando sem direção, até que encontraram um cadáver e caíram sobre o mesmo. Jéssica aproveitou para passar despercebida, mas tão logo dobrou a esquina, seu coração quase pulou pela boca. Aquela rua estava infestada de zumbis que agitaram-se assim que a perceberam. Ela deu meia volta e correu; os zumbis atrás dela pareciam incansáveis e famintos. O quarteto anterior também levantou e, ao perceberem Jéssica, começaram a persegui-la. Ela corria com todas as forças que possuía, mas não era o suficiente e já começava a sentir-se exausta. Adiante, mais zumbis surgiram e ela agora via-se cercada. Suor escorria-lhe pelo rosto e ela não conseguia pensar em nada, tirando o fato de que iria morrer, até que encontrou uma possível saída. Disparou contra a cabeça de um zumbi já muito próximo, e correu. Pulou por cima de dois carros acidentados, chegando até uma rua aparentemente segura. Seus olhos procuravam desesperadamente por um abrigo; avistou um shopping e foi até ele, rezando para que la dentro fosse um pouco mais seguro que lá fora.

O que um dia havia sido um shopping center, agora era um cenário de guerra. Haviam muitos corpos mutilados pelo chão, que variavam entre zumbis e pessoas que não tiveram sorte. Jéssica viu um policial morto e foi até ele procurar por sua arma. Encontrou-a, estava sem balas, mas ela decidiu guarda-la na bolsa mesmo assim. As escadas rolantes estavam paradas, ela foi até elas e subiu. Lá em cima haviam mais corpos. A maioria das vidraças estavam quebradas, e mesas e cadeiras postas contra as portas. O cheiro era ainda pior do que la em baixo, mas ela continuou. Se quisesse sobreviver, precisaria encontrar suprimentos, coisas que a ajudassem, e isso incluía comida. Aquele era um dos maiores shoppings da cidade e haviam vários centros de alimentação espalhados por ele. Ela foi até o mais próximo que conhecia. Chegando lá, ouviu barulhos; abaixou-se e tentou observar de onde vinham. Alguns zumbis perambulavam por entre as mesas e cadeiras mais ao fundo; um deles possuía um ferro atravessado no peito. Jéssica pegou um copo grande que encontrou caído e o jogou com força contra a parede ao fundo. O som de vidro estilhaçado foi alto o suficiente e os zumbis começaram a movimentar-se naquela direção. Ainda abaixada, chegou até uma vitrine de comidas, fez a volta e colocou alimentos e garrafas de água dentro da bolsa. Aquela bolsa, aliás, já estava ficando muito pesada e desconfortável, ela não havia sido feita para carregar tanto fardo. Precisava ser substituída por algo maior, tipo uma mochila . Levantou-se com cuidado; os zumbis mantinham-se agitados ao fundo, então se apressou antes que pudesse ser vista, retornando ao corredor. Jéssica estava faminta e parou alguns instantes para comer alguma coisa e tomar água. Aquele corredor estava vazio e ela não ouvia barulho algum, então sentou-se em um banco. Após terminado o lanche, prosseguiu. Pouco tempo depois, ela avistou uma loja bazar, destas que vendem materiais escolares. Lá dentro, pegou a maior mochila que encontrou, passou tudo para dentro dela e colocou-a nas costas. Agora sim, seus ombros mal sentiam o que carregavam.

Em termos de bagunça, o centro de alimentação seguinte estava ainda pior que o anterior, mas pelo menos estava vazio. Jéssica já ia a procura de mais alimentos e suprimentos, quando ouviu gritos e tiros. Ela correu até a sacada e observou atônita uma cena angustiante: lá em baixo, dois policias tentavam fugir de um grupo de zumbis; um deles parecia ferido na perna e estava sendo arrastado pelo companheiro, deixando um rastro de sangue no piso branco a medida que prosseguiam. O policial que estava em pé escorou o amigo em qualquer coisa e passou sua arma para ele que mirou e começou a disparar, enquanto o outro tentava encontrar um lugar onde pudessem se abrigar. As portas estavam todas fechadas e barradas pelo lado de dentro. Quatro zumbis terminaram abatidos pelo policial ferido, mas haviam mais que se aproximavam dele. De repente a arma cessou fogo e ele gritou pedindo munição. Aqueles dois não iriam conseguir, Jéssica precisava fazer alguma coisa! Ela mirou e disparou, mas não era uma boa atiradora. Um de seus disparos atingiu a perna de um dos zumbis, e este caiu, mas começou a se arrastar. Mais tiros, porém, nenhum acerto. La em baixo, após vários chutes, o policial conseguiu arrombar a porta de uma loja e voltou pelo companheiro, pegou a arma, carregou-a e disparou nos mais próximos. Quando a situação parecia mais controlada, outro zumbi surgiu nas suas costas, saindo pela porta a qual ele havia recém arrombado. Jéssica gritou, alertando-o. O policial virou-se e eliminou a ameaça, então voltou a puxar o companheiro, que parecia pesado demais. As coisas estavam sob controle, mas logo eles se viram cercados novamente. O barulho dos disparos deve ter inquietado os zumbis próximos e os guiado até o local. O policial ferido parecia ter desmaiado e o outro estava exausto demais para arrasta-lo. Jéssica olhava ao redor, procurando um jeito de descer rapidamente, mas não havia como. Ela mirou e tentou acertar alguns dos zumbis, mas sua arma fez um click seco - ''Ta sem balas, que droga!'' De repente, outros dois homens apareceram correndo lá em baixo. Vieram gritando e disparando. Ao perceber que estavam ajudando, o policial soltou o amigo e se juntou a eles. Os zumbis espalharam-se e começaram a ser facilmente abatidos pelos três. Com o perigo eliminado, o ambiente havia ficado silencioso - com exceção da respiração pesada e nervosa de todos. La em baixo parecia tudo bem agora. Os homens viraram-se na direção da sacada onde estava Jéssica. Ela suava e suas mãos tremiam. O policial agradeceu-a e todos ficaram em silêncio alguns segundos, quando um dos homens gritou apontando para a sacada. Atrás de Jéssica dois zumbis se aproximavam e quando ela virou já estavam praticamente em cima. Não deu tempo de fugir, eles a seguraram e com um passo em falso, Jéssica acabou caindo da sacada, levando os zumbis consigo. Todos aproximaram-se imediatamente para ajuda-la, mataram os zumbis e a puxaram inconsciente de baixo deles.

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