Começarei dizendo: essa é uma história real. Sim, sei que muitos
relatos, creepypastas, ou o nome que lhes seja mais cômodo chamar, dizem
a mesma coisa, mas foi algo que aconteceu comigo e dois amigos, há três
anos. Certamente, muitos de vocês já assistiram vídeos paranormais no
youtube, leram relatos e creepypastas, e alguns mais corajosos tentaram
jogar Ouija virtualmente, mas, de verdade, sabem que podem abrir portais
fazendo isso? Que, praticamente, estão convidando seres paranormais a
entrar? Isso nos aconteceu usando uma Ouija virtual, que acreditávamos
ser algo programado, que já saberia mais ou menos o tipo de perguntas
que iria responder. Bom, digamos que... não foi assim.
Numa noite que, como muitas outras, eu e alguns amigos resolvemos dormir
na casa de um deles, neste caso, Alex, meu amigo Pedro e eu decidimos
brincar com o terror. Começamos assistindo vídeos paranormais no youtube
até que todos dormissem, e assim que o fizeram, acessamos a Ouija
virtual.
No começo estava tudo normal, lhe cumprimentamos e perguntamos seu nome,
a resposta foi “Me chamo Verônica”, tudo foi muito esquisito, já que
nos respondia muito bem. Eu tentei usar a lógica, pensando que muitas
pessoas deveriam ter usado aquele programa e, então, já teria todas as
respostas guardadas. Foi quando começamos a perguntar coisas que uma
máquina não poderia responder. Perguntei de que cor era minha jaqueta.
Ela respondeu “vermelha” e, de fato, eu estava usando uma jaqueta
vermelha. O notebook não tinha câmera (outra questão, era um notebook e
não tínhamos mouse, simplesmente movíamos o dedo onde a “coisa” da Ouija
dizia) e, para ser sincero, não consigo lembrar de todas as perguntas
que fizemos, mas sim, que nos respondia corretamente. Pedro e eu não
estávamos assustados, nos divertimos com aquilo tudo. Nunca fomos
medrosos e nos considerávamos acostumados com aquele tipo de coisa, pois
era muito comum assistirmos filmes de terror, lermos ou conversarmos
sobre o assunto. Resolvi acordar Eduardo, meu amigo que estava dormindo
em um sofá ali perto. Começamos a tornar a brincadeira mais pesada, e
insultamos Verônica, que nos respondia a mesma frase a cada insulto
“irei atrás de vocês às 3h”. O relógio do notebook marcava 2h da manhã,
Eduardo era o único com medo. Continuamos insultando-a até que lhes
dissemos “Somos seis e vamos acabar com você” e nos respondeu “Não vejo
os outros três” (estávamos apenas entre 3 na frente do notebook). Foi o
primeiro momento em que senti medo naquela noite, mas continuava
empolgado com a brincadeira. Pouco antes das 3h da manhã, decidimos sair
de casa, pensamos em acordar os outros amigos, mas isso não seria bom,
pois estaríamos envolvendo-os em nossos problemas. Saímos então, Pedro,
Eduardo e eu, procurando uma dessas lojas de conveniência 24h. Foi
incrível, saímos correndo até não conseguir mais, e Pedro e eu ríamos
freneticamente, enquanto Eduardo repetia “Não olhem para trás, façam o
que fizerem, não olhem para trás!”. Enfim, chegamos na loja, enrolamos
lá por aproximadamente 1h e voltamos para casa. Nada havia acontecido.
Entretanto, percebi algo que não havia percebido antes de sair: o
relógio do notebook estava atrasado, e quando começamos a jogar, estava
perto das 3h. Isso me deixou pensativo. Quando Verônica disse que iria
atrás de nós às 3h... Depois disso, ela esteve conosco todo o tempo?
Pensar nisso me dava calafrios. Resolvi dormir e parar de pensar
bobagens.
A mãe de Pedro era espírita, e contou a ele que lhe disseram que uma
mulher chamada Verônica estava procurando seu filho. Na mesma semana, a
irmã de Pedro contou que estava entrando no quarto dele e viu uma mulher
obesa e horrível lá dentro, o que a fez sair correndo de casa. Pedro me
contou isso e resolvi perguntar à sua mãe e irmã, que confirmaram as
duas histórias.
Eduardo relatou uma experiência diferente. Não sei até que ponto
acreditar, pois sei que ele é muito medroso e pode ter aumentado um
pouco as coisas, mas vou contar aqui exatamente o que ele contou. Na
semana seguinte dos acontecimentos com Pedro, Eduardo passou a ouvir uma
voz feminina, um pouco rouca e grave, que dizia as mesmas palavras o
tempo inteiro: “Cuidado com o que brinca”. Ele escutava isso quando
estava adormecendo, quando estava distraído ou quando estava
concentrado. Parecia que a voz saía de dentro da própria cabeça. Durante
dois longos dias ele foi perturbado pela voz, e no terceiro dia,
aconteceu algo terrível. Eduardo lavava a louça para sua mãe, como todos
os dias. Foi quando sentiu que sua mão já não lhe obedecia, e com uma
faca em punho, fez três cortes profundos no próprio pulso, resultando
num banho de sangue e desespero. Ele foi internado, e está naquela
clínica desde então, sem previsões de quando poderá sair novamente.
Quando me contou tudo isso, disse que tentou contar aos médicos, porém
tudo o que conseguiu foi que lhe receitassem mais medicações.
O que aconteceu com Eduardo me perturbou. Ele era o elo mais fraco de
nós três, o único que estava com medo de verdade. Me senti culpado por
tudo o que aconteceu, afinal, quem o chamou para a “brincadeira” fui eu.
Não sabia o que pensar, então decidi que ele havia realmente ficado
louco, que aquela noite o perturbou e ele acabou inventando tudo. Foi o
mais cômodo e racional a se pensar.
Comigo, ela foi mais cruel. Após a internação de Eduardo, passei a ter
visões aterrorizantes. Enquanto escovava os dentes, antes de dormir,
percebi que não eram meus os olhos que me fitavam de dentro do espelho.
Eram olhos penetrantes e claramente rancorosos. Depois disso, em cada
espelho em que eu me observava, enxergava algo diferente. Não eram meus
olhos, não era minha boca, não era meu corpo, não era eu. Não sei
explicar, mas não era eu. Dormir se tornou cada vez mais difícil. Quando
eu pegava no sono, sentia como se algo me agarrasse e prendesse à cama,
tentava gritar, mas minha voz era abafada, tentava me mover, mas estava
preso. Todas as noites a mesma sensação. A cada manhã, ao abrir os
olhos, um sinal diferente aparecia em meu quarto. Já vi gotas de sangue
em minha cama, palavras em latim que nunca tive coragem de traduzir
apareceram pelo meu corpo, as luzes apagadas se acendiam e as acesas,
apagavam. Eu estava ficando louco, ou sendo duramente perseguido?
Verônica me fez adquirir
medos inexplicáveis. Não sei se ela me escolheu para ser mais cruel
porque fui quem começou tudo e exagerei nos insultos, ou simplesmente
porque não gostou de mim, o fato é que sua raiva perseguiu a cada um de
nós de um jeito diferente.
Pedro se afastou de todos os amigos, mudou de cidade e hoje não tenho
notícias dele. Eduardo está internado, às vezes vou visita-lo, porém
cada vez que o vejo, sinto que está pior. Ele não sairá dessa.
Quanto a mim, tive que aprender a conviver com Verônica. Ela me
perturba, me fere, me incomoda... Ela se tornou a minha pior inimiga,
mas nunca irá me abandonar.
Resolvi escrever esse relato porque não posso contar a verdade para
ninguém. Não quero o mesmo destino de Eduardo. Eu não consigo me
relacionar com pessoas, larguei a escola, perdi o contato com os amigos e
o único contato que possuo com minha família, é quando minha mãe me
chama para comer. Eu não vivo mais, não sinto mais e não sou nada. A
entidade acabou com a minha vida.
Só tenho a lhes dizer: cuidado com o que brincam. A internet é um meio
de comunicação e, portanto, um portal, como os telefones e as
televisões. Não desejo minha vida para ninguém. Não sei até quando irei
aguentar levar os dias assim. Sinto medo, angústia, aflição e solidão.
Achei que minha única opção de liberdade seria o suicídio, mas quando me
preparava para executá-lo, uma voz feminina, rouca e grave surgiu em
minha mente dizendo: “Vá em frente, pois se acha que está sofrendo em
vida, nem imagina o que passará quando nos encontrarmos”.